segunda-feira, 27 de maio de 2013

II RAID DA MANTIQUEIRA - CRÔNICA DE UM FIM DE SEMANA INESQUECÍVEL

MGA e seu sucessor ao lado do VW Karmann Ghia e seu sucessor - encontro de gerações

O odômetro do MGB marcava 26794 milhas quando dei a partida na sexta-feira, às 7 da manhã, rumo a Tiradentes, de onde seria dada a largada para os mineiros que participassem do Raid, com destino a São Lourenço. Como moro a 30 km de estrada aberta até o trabalho e uso meus antigos frequentemente na labuta do cotidiano, nenhuma revisão especial precisou ser feita no carro e posso dizer que, graças a essa distância, conheço bem suas manhas e seus limites em situações de maior exigência. Meu navegador também é um velho conhecido desde esta prova, de modo que formamos - carro, navegador e piloto - uma equipe bem azeitada para o que estava por vir.
Mercedes 350 SL foi o mais rápido de sua categoria no primeiro prime

Chegando em Tiradentes, conheci alguns dos meus adversários, todos em carros magníficos, a maioria esportivos puro-sangue, além de um Fusca 1500, um Fiat 500 moderno, uma belíssima F-100 V8 com câmbio automático e o BMW 328 1993 do Roberto Aranha, piloto carioca da mais refinada técnica que, muito elegantemente, levou seu cocker spaniel para se divertir a bordo do clássico de Munique. 

Um pouco da diversidade automotiva vista no Raid; o Porsche veio de Curitiba e levou 3 troféus

Foi também na largada em Tiradentes que tive o prazer de conhecer o Jornalista José Resende Mahar, figura respeitadíssima no meio automotivo e dono de conhecimento enciclopédico a respeito de tudo o que depende de combustão interna. Nos identificamos imediatamente pelo seu fino humor britânico associado ao fato de eu estar com o único representante da terra da Rainha naquela largada e, principalmente, por sermos membros de uma raríssima seita - a de colecionadores de carros antigos que possuem uma Caravan 4 cilindros em seu acervo.
E foi dada a largada!
Jaguar E-Type V12 automático

Eu, o Eduardo e a baratinha íamos muito bem, na maioria das vezes com cerca de 3 ou 4 segundos, no máximo, de erro em relação às referências; apesar de estarmos correndo em estradas com trânsito aberto, a agilidade do MGB me permitiu negociar bem as ultrapassagens sobre veículos mais lentos e manter as médias não parecia lá muito difícil... até que, passados 20 minutos de prova, a chuva resolveu cair pra valer. Para um esportivo dono de uma estabilidade digna de um kart, tudo bem e continuamos no ritmo forte que a prova exigia, mas, com mais uns 30 minutos de chuva inclemente, Joseph Lucas, The Prince of Darkness, resolveu aprontar das suas e uma pane elétrica fez com que os limpadores de parabrisa parassem de funcionar. Mesmo com visibilidade quase zero, eventualmente tendo que colocar a cara para fora do carro e nos ensopando por causa dos vidros abertos, continuamos a mandar lenha, agora sem a mesma precisão do início, mas conseguimos cumprir a prova satisfeitos com o nosso desempenho. Para o troféu de regularidade, estávamos no páreo!
Ao volante, diversão em seu estado mais puro...

No sábado, o sol resolveu dar o ar da graça e, em um dia magnífico, fomos brindados com as provas de velocidade em estrada fechada, os primes. Com um motorzinho de 4 cilindros sem a mesma compressão da sua juventude, o MG não tinha muita chance contra os grandões, mas foi divertidíssimo acelerar o bicho até o limite, chegando, depois de 14 quilômetros da segunda prova, envolvidos pelo cheiro de borracha queimada e discos de freio quase incandescentes, com a certeza de que fizemos boa figura - soubemos depois, que merecemos um mais do que digno décimo lugar.
Foram poucos os muscle-cars no evento, mas o Dodge Charger nacional fez ótima figura

Foi nesse sábado que tive o prazer de conhecer pessoalmente o Paulo Levi, do Adverdriving, a quem devo algumas das fotos deste post, e seu absolutamente maravilhoso Chevette 1975, e o Max Acrísio, que, com seu MGA (seu há 37 anos!), representou, junto comigo, a casa de Abingdon e a tradição dos mais divertidos esportivos do mundo. 
Carros interessantes não faltaram entre os cerca de 60 inscritos, desde os originais impecáveis, passando pelos preparados e até um Fusca com motor Porsche de 6 cilindros 3.6, um Chevette com V6 de Pajero tão bem instalado que parecia original (segundo o dono, até os coxins originais do motor foram aproveitados) e um Gordini com motor VW AP 2.0.
Os dois MGs perfilados aguardando a largada do segundo prime em Dom Viçoso pareciam se sentir em Brescia nas Mille Miglia; mais atrás, o Chevette só observa...

Noite de premiação e o Troféu José Resende Mahar, para a equipe que melhor representou o espírito do evento, veio para nós, graças à pane causada pelo Príncipe das Trevas e que, segundo o próprio Mahar, não foi capaz de tirar nosso sorriso e nosso espírito desportivo. Confesso que me senti emocionado em merecer ganhar um troféu das mãos de figura tão ilustre. 
Duas gerações de Ford F-100, escandalosamente lindas

Outras premiações especiais foram para o Ford T5, de veículo mais raro do evento, para o Porsche 911 de Luiz Leão, que veio de mais longe (Curitiba), e para o piloto mais velho, Jan Balder, no imortal Malzoni das Mil Milhas de 1966. O campeão geral do Raid foi o Paulo Henrique Novo, com o Puma 1978, que perdeu apenas 31 pontos, seguido pela Ford F-100 V8 do André Peon (80 pontos perdidos) e pelo nosso querido MGB (84 pontos perdidos), coincidentemente os três na mesma categoria. Muito sentida foi a ausência do Muricy, que teve um problema de saúde na família e acabou impedido de comparecer na última hora.

Eu, o Max e os MGs, que, por causa do atraso dele na largada, fizeram um lindo pega no segundo prime

De volta para casa, sem nenhum engasgo ou problema maior (felizmente não voltou a chover!), o odômetro do MG marcava 27510 milhas. Foram 1175 quilômetros de sorrisos em apenas 3 dias. Missão cumprida!

De volta para casa com dois troféus e 1175 km de diversão

16 comentários:

Rodrigo Gonçalves disse...

Grande Luís, muito obrigado por participar do nosso evento! Um abraço!

Max disse...

Só o proprietário de um produto de Abingdon-on-Thames poderia escrever um texto saboroso como este. Conhecer você, seu compacto navegador e seu MGB foi um dos muitos aspectos positivos deste II Raid.

Luís Augusto disse...

Max e Rodrigo, foi um grande prazer conhecê-los. Grande abraço.

José Rezende - Mahar disse...

LUIS,O ESPÍRITO DO RALLY FOI MESMO MAIS BEM REPRESENTADO POR SUA ATUAÇÃO! A HONRA DA FOI MINHA... SAY NO TO THE PRINCE OF DARKNESS!
MAHAR

regi nat rock disse...

Que legal dotô... Pra variar a "lucas" deu o ar da graça, como sempre, quando chove, rsrsrsrsr..., queria, também, ficar marcada sua austera e nunca confiável eficiência. Mas o que vale mesmo é o espirito participativo. Carro antigo tem mais é que andar e mostrar porque é ícone.
Grande abraço.

Luís Augusto disse...

Mahar e Regi, o gostinho não teria sido o mesmo sem a atuação de Joseph Lucas! Abraços

Roberto Aranha disse...

Caes sao como carros, tem que ser ingleses ou alemaes. Obrigado pela mencao ao cocker spainel..

Luís Augusto disse...

Hehehe, então um cão inglês em um carro alemão agrada às duas superpotências! Grande abraço.

roberto zullino disse...

Finalmente tirou a bunda da cadeira e participou de alguma coisa que preste ao invés de ir nesses eventos em cidades turísticas decadentes, onde só tem comida gordurosa, lasanha de ontem e véia gorda parecendo panela de pressão Panex no baile.
Esta semana tem um desses eventos estáticos de carros que pagam IPTU. Como de hábito a concentração de trambiqueiros e mentirosos por metro quadrado será a maior do planeta. A única coisa que falta em Lindóia é banheiros.

Luís Augusto disse...

Ora, ora, Zullino, a formação da personalidade se dá em etapas. Sempre fui apaixonado por carros, mas só agora estou tendo a chance de competir. No mais, vc tem razão, nem vou a Lindóia esse ano.

roberto zullino disse...

estou quase indo para ir dar risada no baile de gala, adoro ver as senhôras fantasiadas de Panex com aqueles brocados dourados ou aluminizados.

Luís Augusto disse...

Senhôras foi demais! Vc tem feito falta por aqui.

roberto zullino disse...

depois que o M morreu não tem muita graça, a maioria é muito frouxa.

JT disse...

Guiar um MGB na estrada é um prêmio por si só. Levar dois troféus para casa representam o tempero de um fim de semana realmente inesquecível.

Luís Augusto disse...

Obrigado, JT!

Vera Lambiasi disse...

Uau! Escondendo o leite, hein? Está contratado para escrever uma crônica no próximo Rallye do MG Club do Brasil. Muito boa, congrats!